Carta aberta ao ciúmes

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6/6/20252 min read

Caro companheiro que me acompanha ao longo da minha vida desde a primeira vez que vi minha mãe fazendo carinho em outra criança. Talvez ali você tenha surgido e desde então tem se espalhado por vários pontos da minha existência.

Quando criança somos possessivos com nossa mãe, pois é ela que nos cuida, nos alimenta e nos mantém vivos, é uma relação real de dependência natural. Se a gente perder, nós morremos.

Depois que crescemos, em vez de haver a libertação, na verdade a gente reedita aquele comportamento infantil, controlador e possessivo e continua propagando ele nas relações afetivas na vida adulta.

Você, caro amigo, nesse caso está muito atrelado ao medo de ficar sozinho, é realmente a repetição daquele comportamento que a gente tinha na infância que estava associado ao medo da perda porque isso custaria a nossa existência.

Por isso temos a sensação de que você sempre esteve com a gente e é quase impossível te mandar embora.

Aqui quero falar um pouco de tudo, onde você toca, você causa dor e sofrimento. Não existe essa de “ah, mas um pouquinho é bom”, isso é coisa de quem precisa de migalhas para viver. O amor e o afeto podem ser demonstrados de muitas outras formas, não precisa ser através da insegurança de perder a outra pessoa.

O ciúmes é exatamente isso, o medo da perda, a posse que é sua somente sua - quantos pronomes possessivos é preciso para entender o quanto isso é problemático?

Se não tem ciúmes não é amor

Certamente você deve se achar muito importante por estar amplamente relacionado ao sentimento mais poderoso da humanidade. Pois é, mas tenho péssimas notícias para você: essa associação é mentirosa!

Não, ciúmes, você não está atrelado a esse sentimento que é puro e deseja apenas o bem da outra pessoa. O que você causa nas pessoas é a sensação de abandono, de falta de amor, como isso pode ser positivo?

Culturalmente aprendemos que o que é meu é meu, não somos ensinados a dividir ou a compartilhar, mas sim competir e competir. Até mesmo no campo profissional, não há vitória se não houver um derrotado. Por que não todos vencerem juntos?

Nas relações afetivas também é assim, entendemos que estamos constantemente competindo uns com os outros. Seja dentro do próprio relacionamento (quem tem mais ciúmes) ou fora de olho em quem quer pegar sua preciosidade que é sua e só sua.

É uma relação de dependência que pode evoluir para sérios problemas emocionais.

O ciúmes, caro companheiro, é uma sombra que obscurece o caminho para relacionamentos saudáveis. Essa ideia de que o amor precisa ser vinculado à posse é um equívoco que impede o crescimento mútuo. Se não confiamos na capacidade de escolha do nosso parceiro, questionamos não apenas a lealdade deles, mas a própria base do relacionamento.

Ao longo dos anos, você, ciúmes, tem sido como um vírus emocional, corroendo a confiança e trazendo insegurança. A verdadeira segurança emocional não vem da tentativa de restringir ou controlar, mas da construção de uma base sólida de confiança mútua.

Desaprender o ciúmes é, na verdade, um ato de amor próprio e do outro.

É hora de reescrever nossa narrativa emocional, reconhecendo que a liberdade no relacionamento não é uma ameaça, mas uma oportunidade. Ao deixar você, ciúmes, para trás, podemos abrir espaço para uma conexão mais profunda, onde o amor é uma escolha consciente e não uma obrigação imposta.

Que possamos trilhar um caminho mais leve, onde a confiança substitui o medo e a parceria se torna a verdadeira joia do relacionamento.